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Araçuaí: Globo Reporter exibe reportagem do coral "Meninos de Araçuaí"

O Globo Repórter edição de sexta-feira (23-12-11) falou do Projeto Social em Araçuaí que alimenta sonhos de 180 crianças através da música: "Coral meninos de Araçuaí"

Assista a reportagem que tem duração de 13m53seg : Globo Reporter Coral meninos de Araçuaí

Uma estrada sinuosa, estreita, cheia de caminhões. Estamos a caminho do Vale do Jequitinhonha, nordeste de Minas Gerais. Um Brasil esquecido passa pela janela. Nosso destino é a cidade de Araçuaí.


O que nos leva a essa terra que brilha é um canto. Um canto harmonioso e transformador.

A região tem ares e sotaques nordestinos. Afinal, estamos quase na divisa com a Bahia. Araçuaí tem 30 mil habitantes. O povo é humilde. E com criatividade encontrou a solução para seu maior problema: a falta de oportunidades.

Uma casa simples, à sombra de uma mangueira, com janelas e portas sempre abertas para o aprendizado. Na cozinha se ensina português e matemática. O salão é o espaço da democracia, das descobertas, da terapia. E no quarto a música não dorme. Ao contrário, é ela que desperta a transformação.

É na casa pintada com tinta feita de terra que 180 meninos e meninas de Araçuaí são preparados para uma vida melhor. Aqui funciona o projeto "Ser criança".

E o que a garotada faz por lá? Aprende, brincando.

Na cozinha, a criançada faz biscoitos. A receita é fácil e divertida. A professora escreve, as crianças lêem os ingredientes. A receita também serve para ensinar Matemática.

Contas feitas, eles botam a mão na massa. E com a massa pronta, é hora de caprichar na caligrafia.

“Quem ainda não conhece letra vai aprendendo aqui. Quem ainda não consegue, quer tentar com o biscoito”, diz a professora Juliana Santana.

O encontro das crianças e da música regional na roda soma cultura, brincadeira e educação.

“Tudo aqui gira em torno da roda, você aprende a conversar, você aprende a ser uma pessoa melhor, escutar as pessoas, a respeitar o direito”, diz Cléia Celestino da Silva, coordenadora do coral.

Hoje educadora dessas crianças, Cléia já foi uma delas. É semente que cresceu no projeto. Até marcenaria aprendeu.

“Fazia mesa, bancos. Meu pai mesmo não gostava não na época. Depois foi conhecer o projeto. Ele olhou e disse: ‘É, bonito mesmo, você que faz isso mesmo?”, conta Cléia.

Cléia não sorria tanto assim quando pequena. Quanta transformação.

“A gente expressa opiniões, os sentimentos, os jogos, a gente aprende coisas novas, inovadoras que pode multiplicar na escola”, diz Emily Alves Miranda.

Emily Alves Miranda e sua mãe, Aparecida dos Santos, sendo entrevistadas por Renata Capucci e a equipe do programa em Araçuaí

Quando perguntada se sempre foi comunicativa, Emily diz: “Antes eu era muito tímida. Tinha vergonha de tudo. Hoje eu já falo, expresso meus sentimentos pra todos, tudo o que sinto”.

O rio Araçuaí, que dá nome à cidade, passa pertinho da casa de Emily. A menina se descobriu no "Ser criança". Aparecida dos Santos, a mãe, ficou aliviada.

“Perguntava a ela se ela tinha esperança em alguma coisa, não tinha assim, sabe? Não sonhava, não sonhava. E com o projeto assim, ah, despertou nela, entendeu?”, diz aliviada.

Emily já até conta seus sonhos.

“Sonho, em ser atriz de novela”, revela.

A arte também contaminou a pequena Roseane, de 7 anos. Mas não pense que Roseane sempre deu tanto orgulho assim à mãe e à avó. A menina era uma espoleta!

“Largava as coisas, chegava dentro de casa espalhava tudo e não guardava, a gente tinha que estar brigando para ela guardar, pondo de castigo, chegava da escola jogava as roupas”, diz a mãe Lucinéia dos Santos.

“Hoje ela está uma menina alegre, sorridente e que conversa com a gente com educação”, revela a avó, Maria José dos Santos.

Uma mudança surpreendente.

“Depois que ela entrou no coral ela chega em casa, tira a roupa da escola, guarda o uniforme, já recolhe os brinquedos com que brincou. Ela acaba de comer e lava o prato” conta a mãe.

Rose e Emily não mudaram só de comportamento. Se revelaram cantoras. E junto com outros meninos e meninas de Araçuaí, estão botando a cidade no circuito cultural brasileiro.

O coral "Meninos de Araçuaí" existe há 13 anos. Várias gerações já soltaram a voz - daqui para o mundo.

“Já fui até para a França com Milton Nascimento, cantei com Gilberto Gil, tive essa oportunidade aqui dentro, por fazer parte do coral meninos de Araçuaí”, se orgulha Cléia Celestino da Silva, coordenadora do coral.

“Os meninos de Araçuaí, por viajarem muito, viraram os embaixadores da cidade. Esses meninos normais colocaram a cidade no mapa, olha que engraçado”, conta Yuri Hunas Miranda, músico.

O sucesso do coral dos meninos encheu Araçuaí de orgulho e também deu à cidade um presente, uma conquista que parecia muito distante e que foi construído com o dinheiro arrecadado em apresentações e com a venda de CDs do grupo. O cinema “Meninos de Araçuaí” abriu as portas em fevereiro de 2008. A sala é bonita, tem capacidade para 105 espectadores e é ponto de encontro dos moradores no fim de semana. Agora, o melhor é que seja qual for o filme em cartaz quando as luzes se apagam. O sonho continua.

Iuri virou percussionista profissional, Cléia coordenadora do coral e Pitágoras, professor de música.

“A gente nasceu aqui, essa vontade nasceu aqui e a gente está podendo passar isso para os meninos”, conta o professor de música.

Já Iuri, o percussionista, completa:

“Hoje em dia falam muito em transformação social, mas por que a gente precisa de tanta transformação? Porque não foram formados de fato, não é? Então esses meninos aqui agora que estão tendo formação, que estão convivendo com grandes artistas, têm boa educação com os coordenadores, eles estão sendo preparados para a vida. Então, quando tiver, 20 ou 30 anos, não vai precisar de transformação social, não vai para o mau caminho”, resume.

A lição que se aprende aqui é mostrada em palcos bem distantes. Quem fica, sente uma falta danada dos pequenos cantores.

“Cada vez que vai eu fico doente, Enquanto não chega eu não melhoro.” se preocupa Dona Zezé, avó da pequena Emily.

A maioria deles nunca teve a chance de acompanhar as crianças nas viagens
“Meu deus do céu, se acontecer na minha vida de eu ir, para mim vai ser emocionante demais”, se orgulha Aparecida, mãe de Emily.

Nós resolvemos fazer uma surpresa para os meninos de Araçuaí. O destino é Belo Horizonte. Eles têm apresentação marcada na capital. Só não sabem que os parentes embarcam no dia seguinte e vão estar na platéia.

A peça "Pra nhá, terra", com direção de Regina Bertola, reúne no mesmo palco o grupo de teatro “Ponto de partida”, de Barbacena, e os “Meninos de Araçuaí”. Nos bastidores, muito capricho e ansiedade.

No palco, concentração, descontração. Aquecimento de voz.

Enquanto isso, lá fora. Depois de 12 horas de viagem, chegou o grande momento, tão esperado. Os parentes dos meninos de Araçuaí estão entrando aqui no Palácio das Artes, o mais importante e tradicional teatro do estado de Minas Gerais. Estão aqui para viver uma emoção única, na verdade uma emoção dupla porque eles nunca viram essas crianças se apresentando num palco tão imponente quanto esse aqui. E elas não fazem idéia de que eles estão na plateia e só vão descobrir essa surpresa no fim do espetáculo.

Equipes do Globo Repórter do Rio e de Minas e os "Meninos de Araçuaí" na apresentação do grupo em Belo Horizonte.


“O melhor de tudo é isso aí, é a surpresa!”, diz uma mãe.

O espetáculo começa. Nhá Terra exige a proteção da natureza, destruída aos poucos pela ação do homem. É um deus nos acuda na floresta, árvores sendo cortadas e incêndios.

Os meninos de Araçuaí são guardiões da natureza. E eles se transformam no palco. Tornam-se grandes estrelas. Dão um show de coreografia, de graça, de afinação. E tudo termina bem. Muito bem. O público aplaude de pé, quanto orgulho...

Mas ainda falta revelar a surpresa:

“Quem for mãe e pai fica em pé. Dos meninos de Araçuaí! Cadê os meninos de Araçuaí, os pais e as mães?”

Emoção em cascata! É hora de muitos beijos e abraços.

“Vou incentivar minha filha cada vez mais, com a ajuda de Deus. Agora, para mim todo sonho é possível. Estou feliz demais”, se emociona Aparecida.









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